Transmissão vertical da malária em uma maternidade pública de Luanda, Angola.

3 min read /
Public Health

 

 A malária constitui um sério problema de saúde pública em Angola. Em áreas de alta endemicidade de malária, mulheres grávidas são o principal grupo de adultos em risco à contrair a doença, que pode resultar em aborto espontâneo, morte neonatal, baixo peso ao nascer, partos prematuros e atraso do desenvolvimento cognitivo. Embora a passagem transplacentária de plasmódios ainda seja fato controverso, a ocorrência de malária congênita tem sido cada vez mais documentada. Em Angola, desconhece-se a prevalência de transmissão materno-fetal da doença. Tornou-se, portanto, oportuno investigar a ocorrência de malária congênita, além de características das gestantes e recém-nascidos relacionadas a sua ocorrência no país.

Métodos: realizou-se um estudo de corte transversal, de base hospitalar, numa das Maternidades, localizada em Luanda, capital do país. Estudou-se uma amostra consecutiva de gestantes e seus respectivos recém-nascidos vivos com peso ≥500g, entre junho e agosto de 2007. Dados sobre antecedentes maternos (idade, procedência, nível de escolaridade, situação conjugal, idade gestacional, número de gestações), pré-natal (acompanhamento pré-natal, número de consultas, profilaxia para malária e do recém-nascido (anemia, icterícia, prematuridade, febre e transfusão sanguínea) foram coletadas utilizando um questionário padronizado. Amostras de sangue foram coletadas das gestantes, placenta, cordão umbilical durante a admissão e o parto para a realização do exame parasitológico. A entrada e análise dos dados foram realizadas utilizando o Programa Epi-Info (6.04d). A freqüência de malária foi descrita e a magnitude das associações entre a parasitemia no recém-nascidos e as características da gestante e do recém-nascido estimada pelo cálculo do Odds ratio, com Intervalos de Confiança de 95% e valor de p (≤ 5%).

Resultados: Foram examinadas 500 gestantes e seus 507 recém-nascidos sendo quatro gestações gemelares e um natimorto que foi excluído do estudo. Entre estas, 22 (4,4%) foram positivas para malária (Plasmodium falciparum), tendo-se detectado parasitemia em 100% das amostras das respectivas placentas, cordão umbilicais e recém-nascidos. Gestantes que não realizaram o pré-natal tiveram cerca de cinco vezes mais chances de transmitir malária ao concepto (p=0,018). A não realização de profilaxia anti- malárica constituiu um risco de malária no concepto três vezes maior em relação às que se submeteram ao tratamento (p=0,021). Quanto às características do parto e do recém-nascido associadas à ocorrência de transmissão materno-fetal, não se constatou associação estatisticamente significante com nenhuma das variáveis investigadas.

Conclusão: a constatação da existência de transmissão vertical da malária congênita em Luanda ressalta a importância de se realizar o diagnóstico laboratorial precoce nas crianças cujas mães apresentem gota espessa positiva para malária, assim como, o aperfeiçoamento do programa de diagnóstico e tratamento na rede pública de saúde, especialmente nos serviços voltados à assistência pré-natal.